Em sessão tensa na noite desta quarta-feira (4), com direito a bate-boca e dedo em riste, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), conseguiu aprovar manobra que garantiu a seus aliados os cargos de comando da Casa.
Com ajuda do PT, Renan colocou em prática uma operação costurada para deixar de fora dos postos PSDB e PSB, que fizeram oposição a sua reeleição.
Aliados do peemedebista reconhecem, nos bastidores, que o presidente da Casa quis medir forças com o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), que luta para se consolidar como líder da oposição na Casa.
Apesar de ser tradição do Senado a divisão das vagas na Mesa Diretora de acordo com o tamanho das bancadas dos partidos, o grupo de Renan conseguiu aprovar indicações de partidos que apoiaram sua recondução do presidente do Senado.
Sob fortes protestos da oposição, que acusou Renan de “tratorar” a escolha em favor de seus aliados e apequenar o Senado, as duas vice-presidências, quatro secretarias da Mesa Diretora e suas respectivas suplências serão ocupados pelo PT, PMDB, PP, PDT e PR. Com exceção do PDT, todas as siglas apoiaram a candidatura de Renan para presidir o Senado.
Com a manobra, o PSDB e o PSB, que teriam direito a dois cargos, foram excluídos da Mesa Diretora. O PDT conquistou a vaga porque indicou o senador Zezé Perrella (MG) para a terceira secretaria, que é aliado de Renan –nenhum outro pedetista foi aceito pelo grupo do presidente do Senado.
Por ser a terceira maior bancada, o PSDB teria direito a indicar o primeiro-secretário, que comanda a espécie de “prefeitura do Senado, mas abriu mão de entrar na disputa depois que os aliados de Renan indicaram o senador Vicentinho Alves (PR-TO) para o cargo.
A articulação do peemedebista provocou um forte bate-boca com Aécio. Após as negativas de Renan aos apelos dos oposicionistas para reavaliar a situação, no microfone, Aécio cobrou o peemedebista.
“Vossa excelência será o presidente dos ilustres senadores que o apoiaram, mas Vossa Excelência perde a legitimidade de ser presidente da oposição. Vossa Excelência apequena essa Presidência”, disparou o tucano.
Renan respondeu lembrando que Aécio foi derrotado na disputa pela presidência em 2014 e o acusou de ser estrela. “É bom que Vossa Excelência esteja dizendo disso! Foi candidato à Presidência! Por isso deu no que deu”, provocou o peemedebista.
O tucano retrucou e indiretamente lembrou que o colega foi alvo das manifestações de rua de junho de 2013. “Perdi de cabeça erguida. Olho nos olhos do cidadão, eu falo com a população brasileira. Vossa excelência perdeu a dignidade desse cargo”, soltou.
O embate foi encerrado com Renan cobrando respeito. “Tenha dimensão da democracia”.
Na sessão, Aécio teve o apoio dos líderes da oposição e do PSB, que fizeram acusações a Renan. “Isso é cretinismo parlamentar. O PSB foi o partido que ousou apresentar o nome daquele que concorreria com o senador Renan”, atacou Lídice da Mata (PSB-BA).
A escolha dos membros da Mesa ocorreu em reunião realizada na casa de Renan. Além do presidente do Senado, participaram da articulação os senadores Humberto Costa (PT-PE), Jorge Viana (PT-AC), Eunício Oliveira (PMDB-CE), José Pimentel (PT-CE), Romero Jucá (PMDB-RR) e Fernando Collor de Mello (PTB-AL).
A chapa escolhida pelo grupo pró-Renan foi aprovada pela maioria do plenário do Senado. Sem reagir aos ataques, o peemedebista negou que tenha articulado a indicação de seus aliados para a Mesa Diretora. “Quem escreve a chapa não é o presidente, são os líderes”, justificou.
TUCANOS
A briga por cargos na Mesa também provocou um racha dentro do PSDB, que indicou o senador Paulo Bauer (SC) para a primeira-secretaria. Renan defendia o nome de Lúcia Vânia (PSDB-GO), mas o partido não bancou o nome da senadora e forçou a sua saída da disputa –num enfrentamento público ao presidente do Senado.
Nos bastidores, tucanos acusaram a congressista de estar recebendo o cargo em troca de ter apoiado Renan, apesar de o PSDB ter aderido à candidatura de seu adversário, Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC).
Irritada com a postura do comando do PSDB, Lúcia Vânia anunciou que vai deixar o partido. Há 20 anos na sigla, a senadora disse que cansou de enfrentar sucessivas dificuldades dentro do PSDB. Sem citar Aécio, mas dirigindo as críticas ao presidente do partido, disse que a cúpula tucana agiu com “frouxidão”.
“A mágoa é em relação a esse processo. A disputa é normal para quem é político. O que não é normal é deixar um companheiro ser massacrado. Pelo menos, o partido vai aprender que tem que ter mais delicadeza ao lidar com questões complexas”, afirmou a tucana.
Aécio negou que o PSDB tenha exposto a senadora, disse esperar que ela de cabeça fria reveja sua posição e não deixe o partido.
Folha
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