“A publicidade do processo é o preço que se paga por se viver em uma
democracia. É uma garantia à sociedade, principalmente em casos de
crimes contra a administração pública. Esses processos devem estar
submetidos ao escrutínio popular”
O juiz federal Sérgio Moro, que conduz a Lava Jato, disse que a
população quer saber o ‘efeito final’ dos processos criminais, ‘saber se
a Justiça funciona ou não’. ”Não podemos ter a Operação Lava Jato como
um soluço que não gere frutos para o futuro”, alerta Moro.
Para o magistrado, ‘são necessárias reformas na legislação que
aumentem a efetividade do nosso sistema’. Moro avalia que o excessivo
número de recursos nas ações criminais ‘forma uma cultura de
impunidade”. Para ele, o grande desafio a ser enfrentado pelo Direito
brasileiro é a efetividade dos julgamentos criminais.
Sérgio Moro falou sobre o tema na manhã desta segunda-feira, 10, no
Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), em Porto Alegre. As
informações foram divulgadas no site do TRF4. O evento fez parte do
curso “Direito Comparado – corrupção e processo penal: experiência nos
Estados Unidos e no Brasil”, promovido pela Escola da Magistratura
(Emagis) da Corte federal.
Moro fez uma comparação entre os dois países. O juiz da Lava Jato
criticou o adiamento da punição. Segundo Moro, que é o responsável pelo
julgamento em primeira instância dos denunciados na Operação Lava Jato, a
presunção de inocência deve ter vínculo com a questão probatória. “No
Brasil, existem casos criminais em que a prova incriminatória é
esmagadora, mastodôntica, com a responsabilidade demonstrada, e o réu
insiste em ir até o final do processo, apostando na impunidade.”
Moro fez referência a um artigo que escreveu em colaboração com o
juiz federal Antônio Bochenek, em que ambos manifestaram a necessidade
de uma alteração na legislação do processo penal brasileiro que permita a
prisão após a condenação já em primeira instância, tornando excepcional
a liberdade na fase de recurso. “No Brasil vinculamos a presunção de
inocência ao trânsito em julgado do processo, e têm homicidas confessos
que ficam 10 anos sendo julgados em liberdade.”
Sérgio Moro disse que a legislação brasileira incentiva o recurso.
“”Nos Estados Unidos, o condenado responde a eventuais recursos já na
prisão”, ele observou. O juiz destacou que o sistema judicial brasileiro
se assemelha mais à legislação italiana, caracterizando-se pela
‘excessiva morosidade’.
Moro usou como exemplo a “Operação Mãos Limpas” deflagrada naquele
país europeu na década de 1990, que culminou com um número de
investigados bem superior ao da Lava Jato. “O caso, ocorrido entre 1992 e
1994, descobriu uma corrupção sistêmica disseminada na Itália. Cerca de
40% dos crimes acabaram sem julgamento de mérito. Boa parte se perdeu
nos labirintos do processo penal italiano”, lamentou.
Para evitar um desfecho parecido em investigações de grande porte no
Brasil é que Moro insiste em uma mudança de cultura jurídica. Para ele,
uma ferramenta poderia ser o instituto da admissão de culpa, usado
comumente nos Estados Unidos.
O magistrado destacou que na América 80% a 90% dos casos criminais
encerram-se com o reconhecimento da culpa, sendo resolvidos em nível
regional. Para Moro, nos casos em que a prova é esmagadora, não se
justifica o tempo e o custo do processo.
No instituto da admissão de culpa, também conhecido como transação
penal, ocorre uma espécie de Justiça Criminal Consensual, na qual os
casos são resolvidos em negociações entre o indiciado e o Ministério
Público, evitando a abertura de processo criminal.
“Para a população, o que importa é o efeito final, é saber se a
Justiça funciona ou não. Não podemos ter a Operação Lava Jato como um
soluço que não gere frutos para o futuro. São necessárias reformas na
legislação que aumentem a efetividade do nosso sistema”, avalia Moro.
Questionado por participantes do evento da Escola da Magistratura
(Emagis) do TRF4 sobre os limites da imprensa no caso Lava Jato, Moro
afirmou que a Constituição diz que o processo é público e que o segredo
de Justiça só deve existir em dois momentos: para garantir a eficácia de
uma investigação e para evitar a exposição da vítima.
0 comentários:
Postar um comentário
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do Blog 'Política hora 1... !'