Por Josias de Souza
Às voltas com a pior fase do seu relacionamento com Dilma Rousseff e com o PT, o PMDB organiza um Congresso partidário. Reunirá em Brasília, provavelmente no mês de agosto, dirigentes e militantes do país inteiro. O pretexto inicial era a necessidade de debater a proposta de reforma política elaborada pelo partido. Mas a conjuntura conspira a favor da ampliação da pauta. “O partido está em ebulição, querendo um canal para se expressar”, diz Geddel Vieira Lima, ex-ministro de Lula e ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal na primeira gestão de Dilma Rousseff.
“Um Congresso como esse serve para dar voz a quem faz o partido funcionar lá na ponta”, prosseguiu Geddel. “Converso com muita gente. E a impressão geral é de perplexidade com a falta de rumo do governo. As pessoas vão trazer para o encontro as impressões que recolhem nas ruas. Você pode imaginar no que vai dar. Estamos sem chefe de Estado. A presidente da República não consegue exercer suas prerrogativas constitucionais. Demora uma eternidade até para indicar um ministro do STF e os dirigentes de agências reguladoras. A inoperância já afeta o funcionamento do Estado.”
O encontro do PMDB ocorrerá nas pegadas de um Congresso do PT, programado para junho. Sócios majoritários do empreendimento governista, os dois partidos vivem às turras. Em privado, dirigentes do PT se queixam das “armadilhas” colocadas no caminho do governo pelos peemedebistas Eduardo Cunha e Renan Calheiros, presidentes da Câmara e do Senado. Sobretudo depois que o STF abriu inquérito contra ambos, para apurar se estão envolvidos no escândalo da Petrobras.
Amigo do vice-presidente Michel Temer e interlocutor frequente de Cunha e Renan, Geddel atribui a Dilma a deterioração do relacionamento. Ele mencionou dois episódios que acabam de desaguar em crises.
Um deles envolve a logomarca PL, partido que o ministro Gilberto Kassab (Cidades) tenta recriar, para atrair quadros do PMDB e de outras legendas. Aprovou-se no Congresso uma lei anti-Kassab, com regras que inibem a criação e a fusão de partidos. Mas Dilma demorou a sancionar a peça. Com isso, deu tempo para que os operadores de Kassab protocolassem no TSE o pedido de recriação do PL.
“Isso é muito grave”, queixou-se Geddel. “É quebra de confiança. Depois reclamam desse sentimento de aversão que cresce dentro do PMDB. Estão todos muito irritados”, acrescentou, ecoando o próprio Eduardo Cunha, que dissera mais cedo: “Com certeza absoluta isso [a recriação do PL] é um projeto de enfraquecimento do PMDB. Vamos combater de todas as formas, na Justiça, na política, de todas as maneiras”.
O outro episódio citado por Geddel refere-se à tentativa do governo de levar ao freezer a regulamentação da lei que trocou o indexador das dívidas dos Estados e municípios. A mudança de índice fora aprovada no ano eleitoral de 2014, sob aplausos de Dilma, que sancionou a novidade em novembro. Súbito, na virada de um mandato para o outro, o governo passou a se fingir de morto, empurrando com a barriga a implementação da regra que favorece governadores e prefeitos.
“Isso é um passa-moleque sem precedentes”, ralhou Geddel. “Se a presidente achava que não poderia cumprir os compromissos que assumiu tinha que explicar suas razões às claras. Não dá para fazer esse jogo de empurrar com a barriga. Isso representa o que eu chamo de molecagem. A presidente promove um amolecamento das relações políticas. O que leva o PMDB a ficar cada vez mais divergente.”
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